20 Fevereiro 2025

Investigação sobre doença de Alzheimer vence Prémio BIAL de Medicina Clínica 2024

Fundação Bial

O Prémio BIAL de Medicina Clínica 2024 foi atribuído ao médico e investigador Tiago Gil Oliveira pela obra “Desvendando os mistérios da suscetibilidade regional do cérebro à neurodegeneração na doença de Alzheimer: da neuropatologia à ressonância magnética cerebral”, que permite identificar as regiões do cérebro mais afetadas pela doença de Alzheimer.

A cerimónia de entrega da 21ª edição do Prémio BIAL de Medicina Clínica decorreu no dia 12 de fevereiro na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e foi presidida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tendo contado com a presença da Secretária de Estado da Ciência, Ana Paiva, e da Secretária de Estado da Saúde, Ana Povo. Em destaque esteve a intervenção de Manuel Sobrinho Simões sobre os “40 anos de Prémio BIAL: o passado e o futuro da Medicina”.

A investigação, premiada no valor de 100 mil euros, revelou que certas regiões do cérebro são afetadas de maneira diferente pelas várias proteínas tóxicas responsáveis pela doença de Alzheimer. São estas proteínas tóxicas que comprometem o funcionamento cerebral normal e provocam sintomas como a perda de memória de curto prazo e a desorientação espacial. Ao compreender como cada tipo de proteína tóxica afeta cada região do cérebro e ao conseguir mapear a composição dessas regiões afetadas, esta investigação ajuda a abrir o caminho para um diagnóstico mais precoce e melhores tratamentos para aquela que é a patologia degenerativa mais prevalente em Portugal e no mundo.

“Comecei por estudar um conjunto de doentes, já depois de falecerem, em que avaliei o padrão da distribuição das proteínas tóxicas. De seguida, estudei o passado desses doentes enquanto ainda estavam vivos ao examinar as ressonâncias magnéticas cerebrais. Dado que algumas destas regiões do cérebro humano apresentam uma equivalência aos cérebros dos ratinhos, usei também modelos genéticos de ratinho para mapear ao nível molecular a composição dessas regiões afetadas e testar de que modo a manipulação das vias moleculares alteradas afeta a aprendizagem e memória” – explica Tiago Gil Oliveira, professor associado na Escola de Medicina da Universidade do Minho, neurorradiologista no Hospital de Braga e investigador principal no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde (ICVS).

A doença de Alzheimer é uma das mais comuns a atingir o cérebro, com o risco a aumentar à medida que a idade avança. Estes estudos focados na identificação das regiões cerebrais diferencialmente afetadas contribuem para um diagnóstico mais preciso e precoce. Com a potencial introdução na prática clínica em Portugal das novas terapias com anticorpos dirigidos às acumulações de amilóide beta, estes trabalhos salientam também que há uma grande diversidade de outras patologias a afetar os cérebros dos pacientes com doença de Alzheimer, o que contribui para tratamentos mais dirigidos.

Para Luís Portela, Presidente da Fundação BIAL, “Este prémio reflete o compromisso contínuo com a excelência científica e o incentivo à investigação médica, que contribui para avanços significativos na saúde humana. O trabalho do Prof. Doutor Tiago Gil Oliveira reforça a importância de compreender os mecanismos subjacentes à doença de Alzheimer e abre portas para novas abordagens terapêuticas”.

O Presidente do Júri considera que “a investigação premiada combina de forma notável a ciência fundamental com a prática clínica, fornecendo informação valiosa para o diagnóstico e potencial tratamento da doença de Alzheimer”. José Melo Cristino realça ainda que “trabalhos como este, não só contribuem para o avanço do conhecimento, como também inspiram quem tem vontade de combinar a prática médica com a investigação científica”.

Menções Honrosas para estudos sobre rastreio de doenças oculares usando Inteligência Artificial e Degenerescência Macular da Idade

O Júri do Prémio BIAL de Medicina Clínica 2024 atribuiu ainda duas Menções Honrosas, premiadas no valor de 10 mil euros cada.

O projeto “Centro de Rastreio e Exame Ocular com Recursos de Inteligência Artificial”, de Luís Abegão Pinto, Joana Tavares Ferreira e Quirina Tavares Ferreira (Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e ULS Santa Maria), propõe um modelo inovador de rastreio de doenças oculares, como o glaucoma e a retinopatia diabética, utilizando Inteligência Artificial (IA). Através de uma simples fotografia, o sistema é capaz de identificar sinais precoces de doenças oculares, permitindo encaminhar os doentes para tratamento especializado de forma rápida e eficaz. O projeto – Screening & Eye Examination Centre using AI resources (SEER) – que será implementado num centro piloto no Hospital Pulido Valente, demonstrou uma taxa de eficácia de 90% na deteção de doenças oculares, com um elevado potencial de custo-benefício. A expansão deste modelo a outras regiões do país poderá revolucionar o acesso a cuidados oftalmológicos, especialmente em áreas com menor cobertura médica. Uma vez que o glaucoma afeta cerca de 200 mil portugueses e é uma das principais causas de cegueira irreversível, este projeto pode reduzir significativamente o risco de perda de visão. Ao permitir diagnósticos precoces e tratamentos mais eficazes, o SEER pretende contribuir para melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas e reduzir a pressão sobre os serviços de saúde.

A segunda Menção Honrosa foi atribuída ao estudo “Degenerescência Macular da Idade – A Primeira Causa de Cegueira Irreversível em Portugal”, de José Paulo Andrade e Ângela Carneiro (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e ULS São João). A investigação destaca o impacto da degenerescência macular da idade (DMI) na população portuguesa, afetando aproximadamente 400 mil pessoas com mais de 55 anos. O trabalho conclui que manter uma alimentação saudável, como comer frutas, vegetais e peixe, bem como fazer exercício físico pode ajudar a proteger os olhos. Além disso, o estudo aponta hábitos a evitar, como fumar, e a necessidade de intervenção precoce através de rastreios regulares. Assim, o estudo propõe ainda um modelo integrado de colaboração entre cuidados de saúde primários e oftalmologistas para acelerar o diagnóstico e tratamento da DMI. Ao promover hábitos de vida saudáveis e estratégias de deteção precoce, este trabalho pode reduzir significativamente o número de casos de cegueira irreversível causada pela DMI.

Criado em 1984, o Prémio BIAL de Medicina Clínica visa incentivar e distinguir a investigação científica na área da Medicina, sendo um dos prémios de maior prestígio no domínio das ciências da saúde.


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