19 Junho 2024

Perspectivas em Destaque – Joana Castro e Costa

De que forma o Leadership for Impact Knowledge Center (LFI) aborda os grandes desafios sociais, como a pobreza, a desigualdade e a sustentabilidade?

O Nova SBE Leadership for Impact Knowledge Center (LFI)  é um centro de conhecimento que tem como missão gerar mudança em prol da resolução de grandes desafios societais (sociais e ambientais). Pretendemos cumprir este objetivo atuando na interseção entre a prática e o conhecimento académico – uma premissa que acompanha o Centro desde a sua génese. O centro nasceu em 2017 como fruto de uma fusão interna de dois centros: o Centro de Liderança, focado em investigação com uma maioria de membros académicos, e um novo Centro focado na temática do Impacto Social, que juntava membros com uma experiência mais prática. Resultado desta união, diferenciamo-nos por esta diversidade de perfis que se manteve até aos dias de hoje, com investigadores e professores convidados, consultores e executivos, alunos de doutoramento, bem como outros alunos de licenciatura e mestrado, que envolvemos em diversas iniciativas. São estes membros da área de Gestão, que, em conjunto e de forma complementar, semeiam e constroem impacto social a partir de uma escola de negócios.

Além desta abordagem de perfis complementares, olhamos para os desafios societais pelo eixo das Pessoas, seja pela lente dos indivíduos, das organizações ou da sociedade como um todo. Este olhar holístico para enfrentar e solucionar problemas societais tem em conta os diferentes níveis de impacto e de envolvimento de todas as partes interessadas (stakeholders). Na esfera individual, queremos capacitar e compreender líderes positivos, com uma visão de longo-prazo e um pensamento sistémico. Ao nível das organizações, procuramos compreender de que forma estas podem liderar ou colaborar na resolução destes problemas de forma mais eficaz e qual o seu papel na procura de soluções inovadoras. Por fim, guiamo-nos pela criação de impacto na sociedade como um todo de uma maneira sustentável e inclusiva, tendo presente o papel único de cada actor no âmbito da co-criação e colaboração.

 

Quais são os principais pilares da abordagem do LFI para gerar impacto positivo na sociedade?

Dando primazia à sinergia entre o conhecimento e a prática, o nosso Centro atua através de três eixos que se reforçam mutuamente: a investigação científica, os programas de educação e os projetos de impacto social. Desta forma transpomos para as nossas iniciativas a nossa grande premissa de juntar a prática ao conhecimento académico através de ligações sinergéticas que se alimentam ao longo do tempo e contribuem para uma comunidade cada vez mais unida e coordenada em direção ao impacto positivo na sociedade.

A nossa agenda de investigação, que por sua vez orienta os nossos programas de formação e projetos, assenta em três pilares: Liderança do Futuro, Novas Formas de Organização e Diversidade, Equidade e Inclusão, cujos sub-temas são detalhados no nosso relatório anual. As três áreas não são mutuamente exclusivas, mas uma maneira de comunicarmos o que investigamos e fazemos. Na realidade, temos projetos que abrangem duas ou as três áreas referidas.  Esta abordagem transdisciplinar permite avançar o conhecimento sobre os desafios societais com o intuito de o aplicar no desenvolvimento de soluções mais inovadoras e eficazes que endereçam desafios societais de forma mais fundamentada e holística.

 

Quais são os principais projetos e iniciativas em desenvolvimento do LFI e que gostaria de destacar?

Pelo seu impacto na nossa comunidade e na sociedade em geral, destaco três projetos que decorrem atualmente:

  • O Inclusive Community Forum (ICF) é um projeto que junta pessoas com deficiência, empresas, organizações sociais, entidades públicas, famílias, escolas e outras partes interessadas na concretização de uma maior inclusão de pessoas com deficiência na sociedade. Um dos principais focos deste projeto passa por promover a empregabilidade deste público-alvo, como fator catalizador para a inclusão, a autonomia e o bem-estar das pessoas com deficiência em Portugal. Mais de 60 empresas já assinaram o Compromisso para o Recrutamento Inclusivo, um dos projetos bandeira desta iniciativa. Motivadas pela assinatura deste Compromisso, bem como pelo trabalho desenvolvido pelo ICF noutras esferas de atuação, como é o caso da capacitação, as empresas têm vindo a recrutar um crescente número de pessoas com deficiência.
  • O Social Leapfrog Program é um programa de reflexão e capacitação de três anos para organizações sociais que procuram diversificar as suas fontes de receitas e maximizar o seu impacto social. Este programa faz parte da parceria Iniciativa para a Equidade Social, com o apoio da Fundação “la Caixa” e do BPI e já vai na sua 4ª edição.
  • A Liderança Social para Gestores é um programa de formação para executivos, com experiência no setor privado, que pretendem doar o seu tempo e as suas competências para contribuir para o desenvolvimento de organizações sociais. No final do programa, apoiamos as organizações sociais a criarem os seus próprios conselhos consultivos, potenciando estas organizações com as capacidades e os conhecimentos de executivos experientes e que trazem abordagens inovadoras. Este programa faz parte da parceria Iniciativa para a Equidade Social, com o apoio da Fundação “la Caixa” e do BPI, vai para a sua 9ª edição e conta com 2 edições em parceria com a Católica Porto Business School.

Destaco ainda um novo projeto que está a nascer – o Scaling Systemic Impact Initiative (SI2). Através desta Iniciativa pretendemos apoiar diferentes tipos de organizações –  fundações, organizações sociais, empresas e fundos de investimento – para uma mobilização estratégica e eficiente dos seus recursos em direção ao impacto mais duradouro na sociedade e que promovam uma profunda mudança sistémica. Reconhecemos a complexidade dos desafios societais que enfrentamos e, por essa razão, propomos a adoção de uma lente sistémica na forma como são abordados, em detrimento da tradicional abordagem linear (e por isso muitas vezes superficial). Na prática, esta nova abordagem materializa-se no mapeamento rigoroso dos sistemas em que os problemas societais estão inseridos e na identificação dos pontos de alavancagem onde devemos focar os nossos esforços para escalar a mudança. Mapeamos ainda o envolvimento dos stakeholders relevantes para uma acção conjunta, permitindo assim uma atuação mais coordenada e eficaz.

 

Quais são os principais insights sobre liderança e inovação social que têm sido identificados como impulsionadores de mudança e progresso social?

É difícil resumir duas áreas do saber tão vastas que abrangem não só a riqueza académica, mas também a prática. Mas gostava de destacar três temas:

  • Colaboração entre Stakeholders: Para abordar problemas complexos e persistentes, é crucial uma ação concertada entre diversos stakeholders. Por exemplo, para incluir pessoas com deficiência, precisamos de colaborar com empresas privadas, agências de recrutamento, escolas que formam estas pessoas, universidades (que ainda formam poucas pessoas com deficiência), o setor público (que define políticas de inclusão), entre muitos outros. Isso exige lideranças capazes de envolver e cuidar dos diferentes atores. A lente da mudança sistémica é uma ferramenta importante para conseguir implementar uma colaboração eficiente.
  • O futuro é híbrido: Os desafios sociais afetam todos os setores, cada um com diferentes capacidades e recursos e os limites entre os setores público, privado e social são cada vez menos claros. A ação conjunta é fundamental para sermos eficazes e eficientes. Os modelos de negócio das organizações sociais exemplificam essa interseção. Um caso notável é o do Café Joyeux, que promove a inclusão de pessoas com deficiência, oferecendo-lhes oportunidades de trabalho em quatro cafés em Lisboa. Gerido como um negócio social, todos os lucros são revertidos para a missão social da Associação VilacomVida. Este modelo híbrido combina uma missão social com uma económica. De forma semelhante, outros cafés e restaurantes privados estão a empregar jovens com deficiência, demonstrando um impacto social claro e evidenciando que o lucro já não é o único propósito dessas organizações.
  • Precisamos de medir o que fazemos: O tema da medição de impacto é um tema importante e também controverso. Porque as metodologias mais robustas cientificamente como os randomized control trials são também muito caras e complexas de implementar e porque não há uma visão única, mas sim múltiplas metodologias e ferramentas disponíveis. Ainda assim, o tema da medição de impacto e da actividade continua a ser muitas vezes preterido ou esquecido, o que faz com que perpetuemos projetos e soluções que apesar do seu mérito talvez não estejam efectivamente a resolver a causa raiz do problema ou a ser a melhor maneira de investir recursos para contribuir para a transformação de um problema social. O caminho faz-se caminhando e por exemplo um primeiro passo pode ser uma discussão interna sobre a teoria da mudança do projecto.

O livro que lançamos recentemente –  Gestão, Liderança e Inovação no setor da Economia Social tem vários insights relacionados com estes três pontos, partindo da perspectiva de desenvolvimento do setor da economia social.

 

Como pode o LFI colaborar com as Fundações para abordar desafios sociais e promover mudanças positivas na sociedade e que papel considera que as Fundações podem ter?

Dentro da economia social, as Fundações desempenham um papel crucial que vai além do financiamento isolado de projetos sociais. Estas assumem um papel de guias e impulsionadoras na concepção e implementação de novas abordagens para gerar maior impacto na sociedade.  Além disso, as Fundações têm o potencial de liderar e congregar as mais de 70 mil organizações sociais do setor, talvez sendo mais realista considerarmos as 5 a 10 mil organizações sociais em Portugal que possuem uma estrutura mais sólida e um impacto social mais significativo. Tirando partido deste posicionamento estratégico no ecossistema social, e dotadas do mindset e conhecimento necessários, e das ferramentas certas, as Fundações podem transformar-se em verdadeiras plataformas para a multiplicação do impacto, assumindo a responsabilidade de influenciar e impulsionar a resolução de problemas societais não apenas no seu próprio ecossistema, mas também por meio da influência de políticas públicas e das estruturas mais profundas da sociedade.

Atualmente, o Centro estabelece colaborações regulares com três fundações: a Fundação “la Caixa”, a Fundação Gulbenkian e a Fundação Amélia de Mello. Por meio destas parcerias, garantimos o financiamento de 4 cátedras importantes, promovendo a pesquisa dos nossos professores, além de conceder bolsas e prémios aos nossos alunos. Destaco da nossa parceria com a Fundação Gulbenkian o desenvolvimento do Mestrado de Empreendedorismo, Inovação e Impacto, visando capacitar os estudantes para enfrentar os desafios societais de forma inovadora e estratégica. Com a Fundação “la Caixa”, estamos envolvidos em diversos projetos focados na transformação do setor social, alguns dos quais mencionei anteriormente, demonstrando o nosso compromisso com a inovação e o impacto social. Por fim, em colaboração com a Fundação Amélia de Mello, organizamos uma conferência anual sobre Paradoxos, proporcionando um espaço para a reflexão e o debate sobre questões complexas da atualidade. Além disso, colaboramos no desenvolvimento do Arquivo Histórico da CUF no Barreiro, um acervo muito completo de documentos, fotografias e plantas que preserva a memória desta organização e contribui para a investigação nacional.

Deixo ainda uma referência à Fundação A Barragem com a qual trabalhamos na edição piloto do Leapfrog e que hoje presta serviços de saúde mental na Nova SBE (social procurement) e a Fundação CEBI que está a participar agora na 4ª edição do programa Social Leapfrog.


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