11 Junho 2024

Perspectivas em Destaque

Clara Frayão Camacho (Museóloga, Plano Nacional das Artes e Museus e Monumentos de Portugal)

 

  1. Pode-nos fornecer uma visão geral do Compromisso de Impacto Social das Organizações Culturais (CISOC) em Portugal e como tem evoluído ao longo do tempo?

O CISOC é uma das medidas do Plano Estratégico do Plano Nacional das Artes (PNA), que foi apresentada publicamente em dezembro de 2023 numa conferência realizada no Iscte. Nessa ocasião foi disponibilizado o site www.cisoc.pna.gov.pt em que pode ser descarregada uma publicação que contém os princípios e a metodologia deste novo instrumento de gestão. Trata-se de uma ferramenta de planeamento e de apoio à autoavaliação do impacto social das organizações culturais, sendo complementar aos instrumentos de gestão de cada organização. O CISOC põe a tónica na responsabilidade social das organizações culturais e favorece a transformação organizacional e a mudança.

 

  1. Quais são os principais objetivos e a missão do CISOC em Portugal?

O CISOC visa contribuir para (re)posicionar as pessoas no centro das missões, das estratégias e das práticas das organizações culturais, seja qual for a sua tipologia, como museus, bibliotecas, arquivos, teatros e centros de artes.  Para cumprir esta missão, os seus principais objetivos consistem em reforçar a promoção da cidadania cultural; comprometer as entidades de tutela e as organizações culturais com desígnios comuns que reforcem o seu impacto social, cultural e educativo; finalmente, afirmar a relevância social das organizações culturais e o seu papel no desenvolvimento comunitário, no bem-estar, na coesão social e territorial, e na inclusão social.

 

  1. Porque é importante que as organizações culturais assumam um compromisso com o impacto social? Quais considera serem os benefícios tanto para as organizações como para a sociedade?

O CISOC nasceu do reconhecimento de um conjunto de necessidades que foram detetadas nas organizações culturais portuguesas, a que tenta responder. Ao assumir um compromisso explícito com o impacto social, as organizações culturais aceitam uma maior responsabilização social, desenvolvem uma maior proatividade na relação com as pessoas, prosseguem estratégias de médio e longo prazo, baseadas em dados e indicadores, e consolidam uma ação integrada com as escolas e a comunidade educativa.

Os principais benefícios para as organizações decorrem de estas passarem a dispor de uma ferramenta de autodiagnóstico, planeamento e autoavaliação, que permite identificar e medir os impactos sociais que resultam da relação com os públicos e a possuir informação útil para informar as decisões. Ao ajudar a demonstrar a relevância da organização perante a entidade de tutela e a sociedade, o CISOC promove também o envolvimento dos cidadãos, favorece a participação cultural e reconhece os públicos enquanto agentes culturais ativos.

 

  1. De que forma o impacto social das organizações culturais é medido e avaliado dentro do contexto do CISOC em Portugal?

O CISOC introduz uma metodologia de trabalho que se inicia com um autodiagnóstico das necessidades da organização na relação com os públicos relativamente a três objetivos estratégicos: manter e incrementar os públicos; diversificar e envolver as pessoas que não são participantes habituais; reforçar a responsabilidade educativa. Deste trabalho coletivo inicial emana a seleção de objetivos operacionais, de impactos e de indicadores quantitativos e qualitativos, escolhidos a partir de uma extensa lista, disponibilizada no âmbito do KIT CISOC. Para apoiar a monitorização e a autoavaliação dos indicadores selecionados por cada organização, o CISOC disponibiliza uma aplicação informática que facilita todo o processo.

 

  1. Quais considera ser os principais desafios enfrentados pelas organizações culturais na implementação o CISOC em Portugal?

Na preparação do CISOC, visitámos 36 organizações culturais de diferentes tipologias e tutelas (públicas e privadas), em diferentes partes do território nacional. Entre estas tivemos a oportunidade de visitar quatro fundações, às quais aplicámos testes dos indicadores concebidos no âmbito deste projeto em diálogo e reunião com as suas equipas. Deste périplo no terreno, destaco o interesse, curiosidade e apetência pelo CISOC, embora naturalmente com matizes de organização para organização. No plano geral, o maior desafio advém da necessidade de consensualização do reconhecimento da importância do impacto social entre entidades de tutela e organizações culturais. No plano específico, os maiores desafios encontrados e expectáveis referem-se à heterogeneidade das condições de recolha e de organização de dados, à falta de hábitos de monitorização e autoavaliação das atividades realizadas e às carências de recursos humanos.

 

  1. Que recursos e apoios estão disponíveis para as organizações culturais em Portugal que desejem envolver-se com o CISOC?

A adesão ao CISOC não implica custos diretos. Cabe à respetiva entidade de tutela assegurar os eventuais encargos financeiros decorrentes da programação de atividades que estejam integradas no Compromisso. O PNA garante às entidades aderentes ao CISOC vários apoios técnicos, em que se destaca o KIT CISOC, disponível no site e o acesso a um programa de capacitação e consultoria, quando solicitado.

 

  1. Que conselhos daria às Fundações que desejam aderir ao CISOC?

A minha sugestão é que comecem por consultar o site www.cisoc.pna.gov.pt, em particular os módulos “CISOC: o quê, porquê e para quem?” e “CISOC: Modelo de Roteiro”, recomendando um exercício de autorreflexão em equipa sobre a oportunidade de adesão ao Compromisso de Impacto Social. Havendo a vontade de aderir ao CISOC, deve ser manifestada ao PNA essa intenção, iniciando-se um diálogo com vista à assinatura do Protocolo de Adesão à Carta de Princípios do CISOC.  Com a celebração do Protocolo é formalizada a Adesão e começa a implementação do CISOC na organização aderente, de acordo com um fluxograma constante do KIT CISOC.

 

  1. Como perspectiva o futuro do Compromisso de Impacto Social das Organizações Culturais em Portugal?

Tendo sido lançado no final de 2023, o CISOC registou em março deste ano a primeira adesão formal, a do Município de Torres Vedras, com toda a sua rede de equipamentos culturais. Em paralelo, está em curso o acompanhamento de cerca de 20 entidades que manifestaram vontade de aderir ao CISOC ao longo deste primeiro semestre, encontrando-se em diferentes fases de preparação.

A minha expectativa é que este instrumento de gestão seja apropriado pelas organizações culturais portuguesas de forma progressiva, contribuindo para melhorar as suas relações com os públicos e para uma maior consciência do impacto social das suas atividades, assente em informação e dados consistentes e confiáveis. Tenho a noção que este será um caminho a várias velocidades, em que algumas organizações, entre as quais as fundações, poderão desempenhar um papel inspirador e impulsionador da adoção desta ferramenta no âmbito das práticas de gestão.


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