O Museu encerra 2020 com a exposição Great Moments. Eduardo Batarda
nos Anos Setenta, com curadoria de João Mourão e Luís Silva e organizada
em parceria com a Fundação Carmona e Costa.
Eduardo Batarda (Coimbra, 1943) é um artista incontornável do processo de
crítica e renovação da prática artística contemporânea que teve lugar em
Portugal a partir dos anos sessenta do século XX. Com um percurso académico
realizado inicialmente em Lisboa e posteriormente fora de Portugal, no Royal
College of Art, em Londres, Batarda cedo deu início ao desenvolvimento de
um corpo de trabalho que recusava filiações simplistas e que encetava um
olhar simultaneamente crítico, cético, irónico, absurdo e humorístico sobre
tudo o que o rodeava, desde a situação política e social do Portugal de então
às dinâmicas artísticas suas contemporâneas e nas quais o artista tinha
dificuldade em se rever.
Great Moments. Eduardo Batarda nos Anos Setenta reúne um momento
fundamental da prática do artista, o trabalho realizado quase exclusivamente
em aguarela e tinta-da-china sobre papel durante a década de setenta.
O título da exposição, claramente irónico, é uma referência a Great Moments
in Self-Expression (École Bolognaise), um trabalho de 1973, e assume para
si próprio a derisão que caracteriza perfeitamente este momento da carreira
do artista.
Recorrendo a técnicas e materiais considerados menores, como a aguarela,
e a estruturas formais e narrativas alheias ao discurso artístico vigente, como
aquelas provenientes do universo da banda desenhada, os trabalhos deste
período constituem-se como uma postura claramente antagonista e de rutura
com as formas e discursos artísticos considerados relevantes, operando através
do que pode ser considerado uma política de terra queimada onde Batarda
reconhecia explicitamente e expunha a irrelevância e o seu desinteresse total
pelos debates e produção artística da altura.
Ainda que o mundo da arte e as suas idiossincrasias se apresentem como
alvo do olho e do dedo acusatório do artista, a sua desilusão e crítica vão
muito mais além. O Portugal da época, a sua moral e costumes bafientos,
a exaustão do regime e a guerra colonial, e até mesmo o ceticismo relativo
à promessa democrática são tópicos soberbamente expostos através de
espirais narrativas de uma minúcia avassaladora, onde o percurso por vezes
metafórico, por outras literal, é sinuoso e caleidoscópico, imersivo e hiperbólico,
barroco, surreal e pós-moderno ao mesmo tempo.